Vanguart tenta voltar para o trilho inicial em ‘Estação liberdade’, álbum sobre o vaivém existencial do trem da vida
Helio Flanders (à esquerda) e Reginaldo Lincoln assinam, a sós ou juntos, as 12 músicas inéditas do álbum 'Estação liberdade' Andrei Moyssiadis / Divulga...

Helio Flanders (à esquerda) e Reginaldo Lincoln assinam, a sós ou juntos, as 12 músicas inéditas do álbum 'Estação liberdade' Andrei Moyssiadis / Divulgação ♫ OPINIÃO SOBRE DISCO Título: Estação liberdade Artista: Vanguart Cotação: ★ ★ ★ 1/2 ♬ Há na foto da capa e no título do oitavo álbum de estúdio do Vanguart, Estação liberdade, a evocação de um sentimento entranhado em álbuns do começo da banda mato-grossense, sobretudo de Boa parte de mim vai embora (2002). Só que o tempo espera por ninguém, como reconhecem Helio Flanders e Reginaldo Lincoln no canto dos versos “Acorda, amor / Que a aurora já vem / Não espera por ninguém” . Tais versos são ouvidos no refrão de A vida é um trem cheio de gente dizendo tchau (Helio Flannders e Reginaldo Lincoln), segunda das 12 inéditas músicas autorais do álbum que chega às estações digitais na sexta-feira, 17 de outubro, em edição da gravadora Deck. De modo geral, pode-se dizer que o Vanguart volta – ou pelo menos tenta voltar – para o trilho inicial, com approach mais pop, neste álbum gravado com produção musical de Rafael Ramos. O álbum Estação liberdade consolida o retorno da banda à cena em julho de 2024, após hiato de dois anos, com o single Demorou pra ser, gravado com Fernanda Takai. Desde então, o Vanguart é banda reduzida na formação oficial a uma dupla integrada por Helio Flanders e Reginaldo Lincoln, ambos compositores e vocalistas do grupo criado por Flanders em 2002, mas oficialmente em cena desde 2005, há 20 anos. Por conta dessa formação reduzida, o produtor Rafael Ramos arregimentou os músicos Arquétipo Rafa (bateria e percussão), Rodrigo Tavares (piano, Rhodes, órgão e sintetizadores) e Rick Ferreira (steel guitar) para dar forma a canções como Rua do passado (Helio Flanders e Reginaldo Lincoln), exemplo do apelo pop do repertório. Há várias boas canções na safra autoral de Estação liberdade, disco em que o Vanguart versa sobre o amor e busca existencial no vaivém do trem da vida. Luna madre de la selva – música da lavra solitária de Flanders cantada em português, diferentemente do que faz supor o título em espanhol – sobressai como a joia pop do repertório, seguida de perto por O mais sincero, tema de Lincoln. Contudo, à medida que o álbum Estação liberdade vai evoluindo, fica evidente que o polimento pop da produção de Rafael Ramos padronizou, em alguma medida, os sentimentos de canções que, talvez, ganhassem mais emoção fora do trilho pop em que se desloca o álbum, adornado com cordas arranjadas por Ronaldo Oliveira em faixas como Noites de domingo e Guaxinim (músicas compostas e cantadas somente por Flanders) e sopros orquestrados por Alberto Continentino (como na confessional canção Roda o mundo todo no meu quarto, tema de autoria de Flanders e Lincoln). Menos produção talvez fosse mais, por exemplo, em Pedaços de vida (Helio Flanders), música pautada por densidade abafada pela exteriorização do instrumental e do canto de Flanders (à vontade nos falsetes experimentados ao longo do disco). A titulo de comparação, há mais densidade e lirismo na parte inicial da já mencionada Guaxinim. Obrigado (Só penso em você), música da safra solitária de Lincoln, desloca o trem do Vanguart para trilho country-folk com o toque da gaita de Flanders em belo momento do álbum Estação liberdade. A combinação das vozes dos cantores no coro encorpa a gravação. Já Canção do estetoscópio (Helio Flanders e Reginaldo Lincoln) tem a pulsação de um rock pop como o álbum. “Vou buscando quem sou / Por vilas e velhas estradas / Em velhas e novas moradas”, avisam Flanders e Lincoln no tom country de Se quiser seguir comigo, última (boa) música de Estação liberdade, álbum que segue rota segura no vaivém existencial do bom cancioneiro reunido por Helio Flanders e Reginaldo Lincoln para este disco que flerta com o passado do Vanguart sem emular um sentimento de outrora que, em boa parte, já foi embora... Capa do álbum ‘Estação liberdade’, da banda Vanguart Andrei Moyssiadis / Divulgação